quinta-feira, 12 de setembro de 2013



ENCERRADO UM CICLO

Um dia nós conversávamos.
Sentados em nosso jardim nós conversávamos.
Tu me disseste.
A vida é feita de ciclos e um está se fechando.
Eu não podia entender e fiquei chorando.
Eu chorava tanto.
Punha-me em pranto.
Não conseguia entender porque isto precisava acontecer.
Se eu te amava e acreditava que tu também me amavas.
Tudo estava sendo preparado para nossa separação.
Tudo estava sendo ajeitado.
E eu não queria aceitar.
Queria consertar.
O que já tinha não conserto.
Sempre acreditei que em tudo se dá um jeito.
Foi uma das nossas últimas conversas aquela e me ficou tudo gravado.
Teu jeito de me olhar.
Era um olhar pesado.
A noite escura. A rede no canto.
Nós sentados conversando.
Tem horas que me pego pensando.
Por que as pessoas se conhecem... se apaixonam... se casam, vivem juntas anos e anos e se separam?
Por que dois seres apaixonados se tornam dois estranhos?
Coisas da vida.
Sei que está encerrado um ciclo. Tenho plena consciência disso.
Mas tem horas que fico refletindo.
É do ser humano pensar, lembrar.
E aquela noite nunca vai se apagar.
Estávamos nos despedindo.
Eu te via indo.
E queria segurar.
Queria segurar o tempo que arrasta tudo como uma grande enxurrada.
Penso.
Não resta nada?

sonia delsin 


OS DOIS PRATOS DA BALANÇA

Adoro o silêncio. Minha alma com ele se delicia.
Adoro ficar quietinha observando o voo de um colibri.
Adoro adentrar nas matas silenciosas.
Quando uma ave interrompe o silêncio de forma prazerosa sinto grande alegria. Como se eu fosse parte integrante do ecossistema.
Gosto das minhas horas quietas, quando medito, quando fico simplesmente a olhar uma estrela que desponta.
Amo observar o sol nascendo, se pondo.
Como gosto de ficar à beira de um lago olhando a água. E as cachoeiras então! E o mar!
Já contei tantas vezes que sou apaixonada pela lua. Que adoro andar pelas ruas. Tudo olhando, tudo observando.
Procuro lugares quietos quando minha alma pede silêncio. Mas também há horas que precisamos do barulho. Gosto de rock, mas tudo a seu tempo, sua hora. Gosto muito de dançar e estar numa danceteria ouvindo belas músicas.
Penso que quando ficamos em silêncio temos um encontro conosco e quando estamos em meio ao burburinho temos um encontro com o mundo.
Precisamos de ambos para estarmos equilibrados.

sonia delsin 


UMA VIAGEM

Eu podia escolher o que colocar na bagagem.
Podia e sabia que faria a viagem.
Muita coisa encarei como prioridade.
A bem da verdade.
Em certos momentos fraquejei.
Confesso que em certos trechos do caminho me assustei.
Que seria capaz de enfrentar tudo isso, como acreditei?
Tinha momentos em que eu pensava.
Vou embora.
Começo tudo outra vez, outra hora.
Covarde uma voz me dizia.
Era a voz da minha consciência.
Sabia que precisava de paciência.
E força... e fé.
Eu precisava superar e ia superando.
Muitas vezes me pegava chorando.
E cantando.
E rindo.
De mim.
O viver é bem assim.
É uma viagem.
Longa. Curta.
A que precisamos.
E escolhemos a passagem.
Escolhemos... nós escolhemos.
Porque só assim podemos nos elevar.
Podemos ascender.
Claro que somos humanos e muitas vezes nos pegamos a descrer.
Mas são passagens... apenas passagens...

sonia delsin 


GRANDES CONQUISTAS

Estive pensando ontem.
Pensando, pensando.
Quanto conquistei neste meu viver!
Um dia pensei que o mundo ia se acabar.
Mas era bem ali que de fato minha história ia começar.
Aos quinze anos no fundo do poço eu pude chegar para descobrir que existia um Deus a nos cuidar.
Tenho uma história de conquistas.
Uns precisam conquistar grandes troféus.
Alguns precisam do poder.
Precisam de contas astronômicas.
Uns precisam de segurança.
Uns precisam de tão pouco. Quase nada.
E outros precisam de uma bagagem pesada.
Eu conquistei sim.
Pensei que nunca conseguiria ser mãe e tive dois lindos filhos.
Queria um dia editar uns livros e vários foram editados.
Quanta emoção quando os vi prontos!
O cheirinho deles de novos nunca vou esquecer.
Vivi uma linda história de amor.
E quando pensava que tudo na minha vida era calmaria.
Veio outro tempo, outro dia.
Tive dor, mas muito amor.
Muito chorei.
E outro amor encontrei.
Por muita coisa passei.
Todos passam, porque aqui é isto mesmo.
Um lugar para crescer, aprender, corrigir.
Se ajustar.
Meios de progredir encontrar.
Quantas conquistas, meu Deus!
Não posso reclamar.
Minha vida é muito mais do que eu poderia desejar.
Um longo caminho a trilhar, e tudo consegue me sensibilizar.
Atravesso a vida assim.
No caminho encontro flores, pedras, espinhos.
Um pouco de tudo.
E vou admirando.
Sentindo. Vivenciando.

sonia delsin 


“CIDADE DAS FLORES”

Conheci Holambra numa fase dura de meu viver.
Fomos minha mãe e eu pra conhecer.
Naquele tempo eu andava tão machucada.
Precisava me sentir amada.
E minha mãezinha me mimou.
Naquele dia eu senti tanta alegria.
Aproveitei muito aquela adorável companhia.
Tenho um tamanquinho com imã na minha geladeira.
Quero guardar esta relíquia a vida inteira.
Recorda-me algo bom.
A cidade das flores naquele dia me encantou.
Por tudo que lá se passou.
As danças, as músicas.
As flores que vimos.
Como nós duas nos divertimos!
Associo Holambra a um dia de ternura que tive ao lado de minha mama que é uma doçura.


sonia delsin


QUE SAUDADE DO TEU ABRAÇO!

Pai, hoje, de repente...
Ah, de repente uma saudade do teu abraço eu senti.
Uma saudade de ficar estreitada ao teu peito.
Bem coladinha.
Me sentindo uma menininha.
A tua eterna menina.
Pai, eu senti uma vontade de voar.
Te alcançar.
Comecei a chorar.
Deixei que as lágrimas corressem no meu rosto.
Não sinto desgosto.
Sinto é saudade do teu abraço apertado.
Meu amado.
Pai, tu sabes que depois que partiste passei por tanto caminho triste.
Fui tão forte, não fui?
Eu errei tantas vezes, meu querido, tentando acertar.
Se tu ainda estivesses comigo seria mais fácil o meu caminhar.
Como sabias me aconselhar!
Teu tempo aqui já estava cumprido.

Demorei, mas entendi.

sonia delsin 


AI, QUE SINA A MINHA!

Deus, eu devo ter pedido.
Devo sim.
Gosto de pensar que seja assim.
Devo ter pedido para nascer poeta.
Para nascer meio anjo-torto, meio borboleta.
Sempre fiz careta.
Para o espelho.
Para as vidraças na rua.
Sempre me enamorei da lua...
Sempre compus versos ao luar.
Ao sol quente.
Sempre fui diferente.
Minha mãe dizia quando alguém me procurava.
Só pode estar lendo.
Ou escrevendo.
Passei mais da metade da minha vida me estendendo.
Para espaços meus.
Espaços que somente os poetas conhecem.
Paraísos próprios dos sonhadores.
Ah, quanto falei de amores!
De alegrias, de dores.
Minhas?
Nem sempre.
Falei da dor e da alegria do mundo.
Falei de tudo que alcancei.
Que minha sensibilidade captou.
Que sina a minha!
Mas me amo como sou.

sonia delsin